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Nossa Gente

Isabel Cristina Costa Gonçalves – Da moda ao Tribunal de Contas do Município de São Paulo

Em um olhar superficial, dá a impressão de que Isabel Cristina Costa Gonçalves construiu uma carreira voltada apenas para o seu ofício no Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP). Essa percepção é ainda mais forte para os colegas de trabalho que acompanharam os 40 anos de serviços prestados no órgão, sempre no segundo andar e, na maior parte do tempo, trabalhando no gabinete de conselheiros. Porém, quando vista de perto, é possível perceber que o caminho da servidora poderia ter sido bem diferente.

Aos 20 anos, Isabel cursava Economia no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), e frequentava um curso técnico de moda, próximo ao Estádio do Pacaembu, na zona oeste da capital. Nem imaginava, um dia, trabalhar no Tribunal. Ela entrou no ramo da moda por meio do convite de um amigo, João Callas Filho, para ingressar em uma fábrica de tecido, a J. Callas, na Vila Santana. Posteriormente, conseguiu uma oportunidade em uma outra empresa desse mesmo segmento: a T. Gabriel, no Tatuapé. Na época, imaginava seguir carreira nessa área. Por conta do desempenho no segundo trabalho, foi indicada para estudar moda em Paris: “eu ia fazer um curso de estilista, porque antigamente os donos de lojas grandes não montavam a coleção. Eles contratavam os estilistas para fazer esse trabalho”.

No entanto, a vida de Isabel passou por uma grande mudança. Ela ficou grávida de seu primeiro filho, Felipe. Então, resolver casar-se com o ex-marido, Oswaldo, e abandonar o ramo da moda: “era um tipo de vida que ou a pessoa que estava com você era ligada ao ramo de moda ou não dava certo”, justifica.

Naquele momento, a trajetória de Isabel tomou um rumo diferente do que ela projetava. Não era mais possível seguir a carreira antes pretendida. Porém, de acordo com o poeta paulistano Zack Magiezi é quando a vida saiu dos trilhos que se descobre que pode se ir para qualquer lugar. O destino escolhido pela servidora foi o Tribunal.

Isabel ingressou no órgão em 1982 para trabalhar na função de Auxiliar Técnico de Fiscalização juntamente com o pai, João Baptista Gonçalves, que, naquele momento, ocupava o cargo de Secretário Administrativo. Ele foi fundamental na trajetória dela na instituição, sendo um mentor, instruindo-a como se portar no ofício com base na experiência dele dentro do Tribunal. Outro membro da família dela que teve grande importância em sua trajetória do TCMSP foi o tio, o ex-conselheiro Paulo Planet Buarque, que foi eleito por seis oportunidades como presidente da instituição, sendo agraciado com o nome dado ao Plenário.

Além de ajudar no início da trajetória dela no TCMSP, o pai de Isabel, que morreu em 2021, é a principal referência familiar dela, em especial por incentivar ela e a irmã, Maria Regina Gonçalves, nos estudos: “ele sempre passou para mim e para minha irmã que o estudo é uma coisa que ninguém tira, para conquistarmos a nossa independência”. Apesar de sua morte, João deixou a busca pelo saber como herança para a família: “foi um pai e um avô que passou muito conhecimento, deixou um legado bom.”

Outros funcionários do Tribunal foram importantes na trajetória da Isabel. Dentre tantos, a servidora destaca a colega Helza, cujo sobrenome não lembra, que também tinha um cargo na Secretaria Geral, como secretária. A colega de trabalho explicou como funcionava a instituição e a ajudou no curso de datilografia, naquela época algo essencial para trabalhar em escritórios.

Depois de trabalhar com o pai, Isabel atuou nos gabinetes de conselheiros. O primeiro foi o de Francisco Martin Gimenez, depois migrou para o de Eurípedes Sales e, nesse momento, está no do presidente João Antonio da Silva Filho. Assim, ela trabalhou apenas no segundo andar, tendo em vista que, diferentemente da configuração atual, tanto a secretária administrativa quanto os gabinetes eram naquele piso. “No primeiro andar ficava o restaurante, no segundo os gabinetes, a secretária administrativa e no terceiro todas os outros setores de departamento”. Atualmente, apenas o gabinete da Presidência permanece no andar, ao lado de outros setores ligados ao comando do Tribunal.

Todavia, não foi apenas o prédio que sofreu alterações, mas também o modo de trabalho do TCMSP. Segundo a servidora, antes havia uma orientação que o funcionário dominasse apenas a sua função. Agora, existe a possibilidade de compreender como funciona a configuração do Tribunal de forma mais completa. Portanto, na visão dela existe uma liberdade maior hoje em dia. No passado até as roupas e pintura das unhas dos funcionários eram regrados. Além disso, com a chegada do digital, as tarefas realizadas na instituição ficaram mais eficientes: “antes era tudo digitado, agora está tudo diferente, porque está informatizado”. Ela complementa: “na época, tinha algumas coisas que precisávamos escrever, datilografar e outras que eram anotadas manualmente”.

Apesar de nesses 40 anos de serviço ter presenciado diversas modificações no Tribunal, nenhuma delas foi tão radical quanto a pandemia do Covid-19. Devido ao isolamento social, os servidores da instituição tiveram que trabalhar de forma remota. Assim, Isabel estava impossibilitada de ir para o seu refúgio de paz, como se refere ao Tribunal: “não via a hora de voltar, mas, como tem mais de 60 anos, fui uma das últimas. Então, quando comecei a retornar ao presencial fiquei aliviada.”

Contudo, a vida de Isabel não se resume apenas ao ofício no órgão. No tempo livre, ela gosta de praticar atividade física, como yoga e caminhadas, em parques ou nas ruas, além de passar muito tempo com a família. Entretanto, nenhum desses hobbies traz a paz que o trabalho oferece. Um dos motivos de acordo com a funcionária é a arquitetura do prédio: “a partir do momento que entro sinto a sensação de paz, diferente de entrar num prédio comercial qualquer em São Paulo”.

Atualmente, Isabel tem três filhos, Felipe, Rafael e Marcela, e uma neta, Bella. Apesar de já poder se aposentar, a servidora está longe de se afastar do seu trabalho no órgão. Ainda assim, planeja, quando este momento chegar, manter-se ativa e quem sabe mudar-se para Portugal, buscando uma maior qualidade de vida. Mas, ela sabe que nem sempre as coisas acontecem como sonhamos. Porém, o nosso trem sempre nos leva para o destino correto e que bom, tanto para a funcionária quanto para o TCMSP, que o dela era o Tribunal, onde construiu sua carreira.

João Pedro Alcântara Leme

Projeto Nossa Gente – Ângelo Márcio da Silva

Feirante, sorveteiro, carreteiro, empacotador, engraxate e ajudante de mecânico. Ângelo Márcio da Silva trabalhou em todas estas profissões após sentir a dificuldade da mãe, Antônia Pinheiro da Silva, natural de Vitória da Conquista (BA), para criar 4 filhos sozinha, depois de se separar do pai deles, Mário da Silva, nascido em Cansanção, no mesmo Estado. Assim, ele garantia o seu pão com mortadela acompanhado de uma ‘Baré-Cola’ para beber com os amigos de infância, no bairro de Santo Amaro, na capital paulista.

Mas a vida o desafiou outra vez. A mãe de Ângelo faleceu em agosto de 1986, quando ele tinha apenas 13 anos. Sendo o terceiro dos 4 filhos, se uniu aos irmãos, e continuaram seus caminhos sem o apoio do pai, que seguiu com outra família após a separação.

No ano seguinte, em 1987, época em que cursava do 5º ano do ensino fundamental, no Colégio Elyo Ferreira de Castro no bairro Figueira Grande, “um anjo em forma de professor” – conforme relata Ângelo, chamado Valter Moreira, comentou com os alunos durante a aula de matemática, que o Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP) estava com processo seletivo aberto para vagas de mensageiro/office-boy, cargo equivalente ao que hoje se conhece por jovem aprendiz. Ângelo Márcio agarrou a oportunidade com unhas e dentes.

Junto de outros garotos de sua idade, Ângelo fez a prova de conhecimentos gerais exigida pelo Tribunal e conseguiu ser aprovado entre as três vagas disponíveis. As ligações diárias via orelhão para a funcionária da seção de pessoal, Kátia, eram tantas, que ela já sabia quando era ele ao telefone. A ansiedade para ter um emprego fixo numa época tão difícil da vida tinha seus motivos e razões. “Às vezes eu costumo dizer que o tribunal foi o meu pai e minha mãe, meu pré-primário, foi tudo”, afirmou ele.

A imensidão do edifício-sede do TCMSP deixava tonto o menino de Santo Amaro que subia a rampa do Tribunal de Contas do Município pela primeira vez, em 6 de julho de 1987. Recebeu um treinamento introdutório no RH que, na época, funcionava no Anexo 1. Logo após, Ângelo começou a trabalhar no segundo andar, como assistente no Plenário, sob a chefia de Zulmira Leite e Olímpio Pereira dos Santos.

Encarregado de entregar jornais e correspondências, ao longo do tempo, Ângelo Márcio já conhecia o nome de todos os funcionários. “Era uma coisa comum as pessoas receberem correspondência aqui no TCMSP. Contas, informativos, revistas, porque a pessoa passava o tempo todo aqui, então vinha tudo para cá. No fim da tarde, eu ia na portaria, pegava um calhamaço de correspondências, e ia separando por setores, andares, e saia entregando,” relata o atualmente único funcionário no regime de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) do TCMSP.

Entre os jovens mensageiros era comum o famoso “trote”. O uniforme de camisa social e calça cinza fazia parte da alta exigência do Tribunal em relação à roupa dos funcionários. Sendo assim, Ângelo conta que a brincadeira era dar nós nas roupas do mensageiro que deixava o shaft (alojamento ao lado dos elevadores), assim, o funcionário era obrigado a pedir um uniforme emprestado ou então voltar para casa, pois era proibido trabalhar sem estar uniformizado.

Ainda como mensageiro, Ângelo Márcio passou a substituir as férias dos chamados contínuos, que na prática eram mensageiros dos gabinetes, na Subsecretaria Administrativa e Secretaria Geral. Depois de um tempo, entrou para a reprografia, um setor subordinado à Biblioteca, para compor o time de Ademir Nogueira e José Carlos Ferraz. Chefiado por Lúcia Marlene, recebeu o acolhimento carinhoso da equipe composta por Lourdes Zsabo, Olivia Pereira, Gleize e Cleuza Oliveira.

Depois de um tempo, surgiu o convite para trabalhar na Secretaria Geral, antiga SDG, dentro do setor de telecomunicações, como operador de telex, telégrafos e fax, sendo chefiado por Vera Lúcia Marchise e supervisionado por Sebastião Carlos do Nascimento. “Tudo que era telegrama que o tribunal encaminhava a gente enviava por aquele setor para outros órgãos, outros conselheiros, outras autoridades do Brasil e até do exterior. Era uma ponte do tribunal com todos os outros órgãos”.

Por boa coincidência do destino, e após muito incentivo de seus chefes, Ângelo escolheu cursar Tecnologia da Informação (TI) na Faculdade Ítalo-Brasileira, justamente na época em que o setor de informática do TCMSP estava em plena ascensão. Assim, surgiu mais uma oportunidade para ele dentro do Tribunal. Com o apoio do então secretário geral, João Alberto Guedes, Ângelo foi recebido na então Secretaria de Informática pelo chefe Milton Hidemi Chigashi e pelo colega Estevan Gomes Camargo.

A princípio, Ângelo Márcio começou colaborando na área de desenvolvimento, ligada ao software, para alimentar um banco de dados, mas depois se encontrou com mais facilidade na área de suporte, com montagem e configuração de equipamentos, ligada ao hardware, em que aprendeu muito com a equipe formada pelo coordenador Marcos Welsh Carboni, Gilson I. Batista Pinto e Antônio Carlos da Silva Filho.

Trabalhando nesta área, Ângelo pôde acompanhar todo o processo de digitalização do Tribunal de Contas. “Eu vi isso nascer no Tribunal, cabeamento estruturado, conexões de rede, participei da infraestrutura disso, e a gente foi trocando pela tecnologia que estava cada vez mais presente e fomos atualizando até chegar no ponto de entregar as redes Wi-Fi”, contou o funcionário.

E assim se passaram 18 anos no setor de Informática, presenciando toda a modernização do Tribunal de Contas do Município, se adaptando para o mundo digital. “O Diário Oficial, todos os setores recebiam o exemplar, era folhetim na época, hoje é tudo digital, com a tecnologia tudo foi ganhando outras formas, o papel acabou ficando uma coisa obsoleta, tudo foi informatizado”, relatou Ângelo.

Com a chegada de novos funcionários para área de TI, Ângelo aproveitou uma nova oportunidade dentro do TCMSP e entrou para a equipe de Infraestrutura e Conservação: “é um setor que eu sempre tive curiosidade de trabalhar, que é infraestrutura predial, que envolve hidráulica, elétrica, alvenaria, jardim…”, contou. Esta mudança ocorreu em 2016, sob a supervisão de Édson Siqueira, e atualmente sob o comando de Felipe Rangel, e é neste setor que ele pretende se aposentar.

Nesse meio tempo de 35 anos de Tribunal, Ângelo teve três casamentos, dois filhos, Vinicius, de 22 anos, e Maryêva, de 14 anos, além de uma enteada, Yasmin, de 11 anos e Felipe, de 18, com a atual esposa, Josie Sobrinho.O servidor deseja registrar o seu agradecimento à antiga creche Padre Gregório Westrupp, onde Vinicius e Maryêva passaram a primeira infância, o mais velho na gestão de Delma Assar e a mais nova, de Barbara Popp, falecida recentemente.

Atualmente ocupado no cargo de Auxiliar de Serviços Administrativos, ele relembra a paisagem que contemplava quando trabalhava no segundo andar do TCMSP: “Era uma visão privilegiada da Avenida 23 de Maio, antes essas árvores não eram tão altas, e não havia essa selva de concreto que está subindo hoje. O trânsito também mudou, os carros eram Gol, Brasília, Opala, e agora tem uma infinidade de marcas, têm algumas que a gente até desconhece”.

Por fim, Ângelo relembra com gratidão o acolhimento generoso que recebeu dos funcionários do TCMSP na época em que ele tinha apenas 14 anos, era órfão de mãe e sofria com a ausência do pai: “o Tribunal sempre acolheu as pessoas, meus superiores e até amigos, sempre como boas influências e me deu suporte em tudo que eu precisei”. Em especial, ele cita ex-funcionários já aposentados, como Josefina Pires, Abelardo Manoel, Raimundo Moraes Gonçalves e Antônio Soares Machado Júnior, que o abraçaram como uma família.

Lilian Brito

Toninho do Transporte: mineiro e sindicalista

A cidade de São Paulo abrigou muitos imigrantes de todas as regiões do Brasil ao longo dos anos. Nesse sentido, existe um senso comum de que os Estados do Nordeste, em especial Bahia, Pernambuco e Ceará, foram os que mais tiveram pessoas migrando para a “terra da garoa”. Porém, na verdade, é Minas Gerais, Estado do Sudeste, que mais tem representantes na locomotiva do país. Segundo dados da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), em 2003, 20,7% da população da capital são de origem mineira, ao passo que 19,7% são de proveniência baiana. Um dos tantos mineiros que se mudaram para o município, no já longínquo ano de 1977, foi Antônio José Nunes, auxiliar técnico de fiscalização, e que neste ano completa 39 anos como funcionário do TCMSP. Atualmente, ele trabalha no setor de Transporte.

A sua chegada, com a mãe, Maria, e outros quatro irmãos, José Clarindo, Maria, Marta e Ramina, sendo ele o caçula, aos 7 anos, teve como principal objetivo fugir da situação de pobreza do Vale do Mucuri, norte de Minas, uma das regiões mais pobres do Estado, no Vale do Jequitinhonha, além de se encontrar com o seu irmão mais velho, Benjamim, que já estava na cidade. Apesar de ter passado muito tempo desde a sua vinda, ele ainda se recorda da sua primeira impressão na nova cidade, quando ao desembarcar na antiga rodoviária, próxima à Praça Princesa Isabel, se encantou ao avistar um orelhão pela primeira vez: “achei muito interessante aquilo, a minha irmã inclusive me colocou para falar meu irmão que já estava em São Paulo na época, achei demais aquilo. Isso está gravado na minha memória”.
Com a perda do pai, Orosino, e da mãe, quando tinha respectivamente um e doze anos, a sua irmã Maria cumpriu esses dois papéis e o inspirou a continuar na luta da vida. Além disso, foi a ponte para Antônio ter o seu primeiro emprego no Tribunal: “a minha irmã era funcionária de um conselheiro, Dr Luís de Oliveira Coutinho, e ele me indicou aqui na época”.

Desse modo, Antônio entrou no Tribunal como mensageiro, aos 15 anos, no dia 27 de junho de 1983. Assim como a sua primeira lembrança de São Paulo permanece na memória, ele ainda se recorda da bela vista que tinha da região de Moema no refeitório, que com o passar do tempo mudou: “antes era mais arborizado e hoje nós temos um cenário de muitos prédios sendo construídos, está bem diferente o cenário desde aquela época”.

No seu primeiro trabalho, teve como chefe Sergio Raimundo, na auditoria I, que foi fundamental na sua trajetória, em especial por inspirá-lo a seguir nos estudos – em 2013, formou-se em direito pela Universidade Ibirapuera (Unib). Outra figura importante na trajetória dele foi Hiroshi Takahashi, diretor da Auditoria, que o auxiliava muito na parte da matemática.

Após três anos como mensageiro, o servidor migrou para a função de contínuo, mudando de regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) para a lei estatutária 9.160. Em 1988, ele teve a estabilidade auferida pela Constituição. Na sequência, em 1991, o cargo passou a ser nomeado Auxiliar de Serviço II. Em seguida, passou a ser chamado de Auxiliar de Expedição. Atualmente, ele é Auxiliar Técnico de Fiscalização. Nessa função, lida com a rotina geral do Tribunal em particular na parte administrativa, na garagem, mais especificamente no Setor de Transporte, o que o fez ficar conhecido como Toninho do Transporte.

Em 39 anos de serviço, Antônio vivenciou muitos fatos marcantes, porém, para ele o mais importante foi quando a Associação dos Servidores do Tribunal de Contas de São Paulo – Astcom – e a Federação Nacional das entidades dos Tribunais de Contas –Fenastec – realizaram um congresso e receberam representantes de grande parte dos Tribunais de Contas de todo o Brasil, em 2006. Entre tantos nomes, o presidente da Fenastec na época, Amilson Carneiro, se destacou por sugerir a criação de uma entidade sindical que congregasse os funcionários do Tribunal e da Câmara Municipal. Foi fundado, então, o Sindicato dos Funcionários do Legislativo e do Tribunal de Contas (o atual Sindilex.).

Anteriormente, em 2002, Antônio junto com outros colegas havia formado uma chapa e foi eleito presidente da Associação dos Servidores (Astcom). Nos seus dois mandatos, que duraram de 2003 a 2006, o seu maior marco foi a organização do Sindilex, no qual ele ocupou na época o cargo de vice-presidente, conquistando uma série de reivindicações para a categoria: “evolução de carreiras, reajustes que estavam constantemente travados. A principal benfeitoria nesse caso foi conquistar a data-base”. Atualmente, ele está no cargo de diretor de Esportes do Sindicato.

Em sua chegada ao Tribunal, em 1983, Antônio era um adolescente de 15 anos, agora é casado com Cleide e tem duas filhas: Deborah e Byanca. Entrou menino e se transformou num homem. Por isso, agradece ao órgão por ter ajudado em sua trajetória: “tudo o que eu conquistei na vida foi graças ao Tribunal”. No entanto, ele foi fundamental também para o TCMSP e para a categoria dos servidores, com destaque para a criação do Sindicato, o seu principal legado.
Portanto, assim como o homem modifica a natureza e ela o modifica, o Tribunal mudou a sua vida e ele a trajetória do TCMSP.

Nossa Gente – Tenório: de uma oportunidade única, ele fez a própria vida

Segunda-feira, 18 de maio de 1987. O tempo chuvoso predominava na cidade de São Paulo. Naquele dia, Antônio Carlos Tenório aproveitou uma oportunidade única e dela fez a sua vida. Aos 15 anos, ele pôs os pés no edifício de arquitetura brutalista do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP) pela primeira vez, e a partir disso, sua história de vida foi construída. Para entender a trajetória de Tenório no TCMSP, no entanto, é necessário voltar no tempo.

Os pais de Tenório, Antônio Francisco e Rita de Souza, são de Pernambuco e vieram para São Paulo em busca de uma vida melhor. No sertão, o casal trabalhava com agricultura. “Meu pai sempre tinha aquele pensamento ‘ah, quando eu me estabelecer, volto pra Pernambuco.’ Mas aí é uma coisa pensar, e outra é querer e poder, e com o tempo a situação muda, você vai se constituindo, obtendo posses. Vai tendo coisas que vão te agarrando, te prendendo, formando raízes”, explica o servidor.

Tenório nasceu em 1971, e foi o primeiro filho do casal, que chegou a São Paulo em 1969. Eles tiveram quatro outros filhos – Dalva, Ivan, José e Dalvanize. Na metrópole paulistana, seu pai começou a trabalhar como pintor em residências, e o filho mais velho, na adolescência, se tornou seu assistente de trabalho. E assim começa a obra do acaso (ou seria do destino?) na vida do jovem Tenório, aos 15 anos de idade.

Num sábado, pai e filho foram trabalhar no apartamento de Walter Coelho, na época diretor de contabilidade do TCMSP. “Eu estava num dos quartos, pintando um rodapé e ele falou: ‘é seu filho?’, ‘É, ele vem aqui me ajudar’, disse meu pai. No domingo, ele afirmou que o sr. Walter lhe daria uma oportunidade de emprego.” E assim chegou a segunda-feira de maio de 1987.

Ao chegar ao apartamento, localizado na Bela Vista, região central da cidade, o diretor disse que o levaria para o Tribunal de Contas, e o jovem ficou sem entender do que se tratava. Partiram em um táxi, que atravessou a Avenida 23 de Maio, na pista molhada de chuva.

No segundo andar do Tribunal, Tenório foi apresentado a João Batista Gonçalves, secretário administrativo na época. Naquele momento, o Órgão estava contratando jovens para o serviço de office-boy/mensageiro, o que atualmente equivale ao “Jovem Aprendiz”, programa do governo para a contratação de jovens. E assim, em 20 de maio de 1987, Tenório assinou seu primeiro contrato de trabalho no Tribunal de Contas do Município de São Paulo.

Aos 18 anos, em 1990, ele foi servir ao Exército em Brasília, no Esquadrão Cerimonial do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas – Dragões da Independência – no Planalto Central. No quartel, nas horas vagas, estudava para um concurso público da Polícia Federal (PF). Com a baixa no Exército em maio de 1991, Tenório voltou para São Paulo para fazer a prova da Polícia Federal (PF), mas não atingiu a pontuação necessária para aprovação. Logo depois, o Tribunal de Contas abriu um edital para a vaga de Auxiliar Técnico Administrativo. “Tudo aquilo que eu tinha visto para a Polícia Federal pedia a mesma coisa no concurso do Tribunal. Fiz a prova, fiquei bem colocado e me efetivei.”

Em 18 de abril de 1994, Tenório se efetivou oficialmente no Tribunal de Contas do Município, e firmou suas raízes profissionais. Desde o começo, seus objetivos sempre se voltaram a ter promoções para um dia chefiar uma equipe. Tenório obteve sua primeira chefia em 2000, na Unidade Técnica de Transporte. Depois, foi para a Unidade Técnica de Infraestrutura e Conservação, por mais dois anos e meio. E, finalmente, para o setor de Compras.

Tenório diz ter aprendido muito a lidar com as pessoas, trabalhando como gestor, e reitera que não é um processo fácil. “Eu já tive muitas equipes boas e lembro os nomes de cada um. Quando montávamos uma equipe coesa, redondinha, andava, mas também já chefiei muitas equipes conflituosas”, relembra.

Transitando por diversos setores do Tribunal durante a carreira, Tenório se tornou benquisto por muitos colegas, em razão do seu jeito cooperativo e agregador. Ele recebeu boas oportunidades dentro do Tribunal, a exemplo de Eloisa Crunfli Cobos Martin, do setor de Pessoal, que já o chefiou por duas vezes.

Outra pessoa que faz parte dos que ajudaram Tenório a constituir uma trajetória no TCMSP foi Luiz Protásio Oliva, que na sua época de chefia no setor de Compras, fez questão que ele estivesse em seu time. “Foi a mais coesa equipe que eu já trabalhei. A gente funcionava perfeitamente, discutia coisas, mas depois do expediente tomava cerveja” recordou.

Além dos 35 anos como servidor do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, Tenório também celebra seus 20 anos de casamento com Daniele Alves: “Sempre digo a ela que eu tirei a sorte grande na Mega Sena, mas a da virada, quando nos casamos em 2002. Agradeço a Deus por tê-la ao meu lado, pelo seu carinho, amor, paciência e cuidado para comigo e com nossos filhos João Vitor e Ana Beatriz”.

Por fim, Tenório agradece ao Tribunal de Contas do Município de São Paulo pela sua formação como pessoa e como profissional: “O Tribunal me fortaleceu no sentido de ter caráter, de ser gentil, educado, de ouvir mais, falar menos… foi o que eu aprendi por todos os setores pelos quais passei.” Relembra também dos companheiros que levará pela vida toda: “Aqui tenho bons irmãos, e eles sabem. Quando lerem esse texto notarão que falo deles”.

Lilian Brito

Izilda: 45 anos de serviços prestados ao Tribunal de Contas do Município de São Paulo

“Os tempos são líquidos porque, assim como a água, tudo muda muito rapidamente. Na sociedade contemporânea, nada é feito para durar.” Essa frase é do filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017). Em suas obras, o pensador defende a ideia de que na sociedade pós-moderna – nomeada por ele como modernidade líquida- é muito difícil manter relacionamentos, ideias e identidades por um longo período de tempo. Mas, no Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP), há uma funcionária que desafia essa lógica: Izilda de Lourdes Carvalho Rodrigues, de 70 anos, que completará, neste ano de 2022, 45 anos como servidora do TCMSP. Certamente, o caso dela é praticamente inédito no Tribunal.

A sua jornada começou no longínquo ano de 1977, quando tinha 25 anos e o prédio do TCMSP, apenas um ano de existência, já que foi inaugurado em 1976. Naturalmente, o entorno era quase deserto naquela época. Anteriormente, Izilda tinha trabalhado no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como chefe dos recenseadores por conta da sua formação em Geografia na Universidade de São Paulo (USP). Na época, o órgão ainda não tinha um concurso próprio. Assim, a Prefeitura de São Paulo permitia que o candidato prestasse uma prova equivalente ao cargo pretendido e, após a aprovação, o postulante poderia assumir a função desejada. Foi desta forma que Izilda conseguiu seu primeiro emprego no Tribunal “Eu prestei um concurso no Hospital das Clínicas para auxiliar administrativa e trouxe para cá (Tribunal)”, relembra. Curiosamente, o HC é um órgão da administração estadual.

Em seu trabalho no IBGE, seu emprego antes do Tribunal, conseguia ir de bicicleta devido à proximidade da casa, no Bairro de Pinheiros, com o local de exercício do ofício, Rua Araújo, no Centro. Porém, em decorrência dessa inflexibilidade, teve que mudar a sua rotina: “é uma mudança que você tem que estruturar”. Logo na sua chegada ao TCMSP, ela estranhou a rigidez do órgão, em especial com relação aos horários. Atualmente, existem formas de compensar atrasos sem ter nenhuma perda financeira, mas, quando ingressou na instituição, esse mecanismo não existia. Então, os atrasos eram descontados no salário: “aquela rigidez de bater o ponto me impactou bastante, você não podia perder o horário, senão tinha desconto no final do mês”. Essa batalha contra o tempo teve um novo capítulo com os filhos, Rafael, que é cirurgião plástico, Marcelo, ortopedista, e Thiago, engenheiro: “eu os pegava (no Colégio Dante Alighieri) na hora do almoço, saía daqui correndo e deixava em casa”. Ela, ainda, complementa: “por conta disso fiquei anos sem almoçar”.

Na sua primeira função no Tribunal, a funcionária teve como chefe Décio Denuncci, que tinha cargo equivalente ao de diretor de Secretaria Geral. Posteriormente, ela foi orientada pelo então chefe, na mesma área, João Batista Gonçalves, a pessoa que mais a incentivou e auxiliou no seu crescimento no Tribunal: “Era uma pessoa maravilhosa, um incentivador dos seus funcionários, foi o líder que mais me impulsionou e me deu ânimo para continuar”. No campo familiar destaca-se o pai, o representante comercial Pedro Carvalho, que morreu há 18 anos. Ainda com a voz emocionada, descreve a importância dele em sua vida: “Ele se esforçou muito para proporcionar tudo que era necessário para mim e meu irmão, Pedro Luis Carvalho. Então ele foi uma inspiração para conseguir tudo que eu queria”, relembra.

O exemplo dos dois ajudou Izilda na sua batalha para se formar em Direito na Universidade Paulista (UNIP). A servidora já tinha três filhos grandes- inclusive no término da sua graduação o mais velho, Rafael, estava ingressando no curso de Medicina. Por causa disso, enfrentou diversas dificuldades para conciliar a maternidade, trabalho e suas atribuições na faculdade. “Eu levantava de madrugada para estudar para as provas.” Mas, com a ajuda de seu marido, o médico oncologista Gerson da Silva Rodrigues, ela finalizou a formação, que foi fundamental para o seu crescimento no órgão.

Após o seu primeiro cargo na Subsecretaria Geral, trabalhou no Cartório devido a uma reestruturação dessa área, depois passou a ocupar uma função no gabinete do então conselheiro Eurípedes Sales, até que assumiu o posto de coordenadora processual, tornando-se uma das únicas chefes mulheres do TCMSP. No período em que ocupou o comando do setor, sempre teve uma boa relação com os seus subordinados. Ela conta o seu segredo para comandar bem: “tem que se colocar na posição do funcionário, se você for um chefe extremamente rígido pode perdê-lo”. Ela ainda elogiou o setor e seus funcionários: “são batalhadores, extremamente dedicados e levam a bandeira do Tribunal adiante”.

Como em todo relacionamento existem momentos difíceis, em especial quando os amantes estão distantes, e com a servidora e o Tribunal não foi diferente. Em decorrência da pandemia do covid-19, os funcionários do Tribunal tiveram que trabalhar de forma remota. Assim, depois de 43 anos juntos, ela e o órgão ficaram separados por algum tempo. No início, ela sentiu a mudança de rotina: “todo dia você tem uma atividade fixa e de repente você não tinha mais nada”. Mas, com o retorno ao trabalho presencial, ambos se reencontraram e aos poucos a vida tem voltado ao normal.

Atualmente, depois de 15 anos na chefia, a servidora deixou o comando e passou para a posição de auxiliar técnica administrativa a fim de dar oportunidade para outras pessoas. Apesar de já poder se aposentar por tempo de serviço e do pedido dos filhos para que isso ocorra, ela pretende permanecer no órgão até a sua aposentadoria compulsória: “Não estou preparada para me aposentar, eu adoro trabalhar!”, justifica.

Desde a sua chegada ao TCMSP tanto Izilda quanto o Tribunal passaram por diversas mudanças. Ela entrou solteira, agora está casada, teve três filhos e cinco netos, Isabela, de 9 anos, Benjamim e Henrique, ambos de 8, Lucas, de 5 e Tom, de 2. O edifício, por sua vez, mudou bastante com o crescimento, ganhou um anexo, Procuradoria da Fazenda, garagem e, devido às enchentes, uma garagem, que ficava ao lado do edifício-sede, foi desativada. O único aspecto que se manteve intacto foi o amor que a servidora tem por seu trabalho no órgão.

João Pedro Alcantara Leme