A cidade de São Paulo abrigou muitos imigrantes de todas as regiões do Brasil ao longo dos anos. Nesse sentido, existe um senso comum de que os Estados do Nordeste, em especial Bahia, Pernambuco e Ceará, foram os que mais tiveram pessoas migrando para a “terra da garoa”. Porém, na verdade, é Minas Gerais, Estado do Sudeste, que mais tem representantes na locomotiva do país. Segundo dados da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), em 2003, 20,7% da população da capital são de origem mineira, ao passo que 19,7% são de proveniência baiana. Um dos tantos mineiros que se mudaram para o município, no já longínquo ano de 1977, foi Antônio José Nunes, auxiliar técnico de fiscalização, e que neste ano completa 39 anos como funcionário do TCMSP. Atualmente, ele trabalha no setor de Transporte.
A sua chegada, com a mãe, Maria, e outros quatro irmãos, José Clarindo, Maria, Marta e Ramina, sendo ele o caçula, aos 7 anos, teve como principal objetivo fugir da situação de pobreza do Vale do Mucuri, norte de Minas, uma das regiões mais pobres do Estado, no Vale do Jequitinhonha, além de se encontrar com o seu irmão mais velho, Benjamim, que já estava na cidade. Apesar de ter passado muito tempo desde a sua vinda, ele ainda se recorda da sua primeira impressão na nova cidade, quando ao desembarcar na antiga rodoviária, próxima à Praça Princesa Isabel, se encantou ao avistar um orelhão pela primeira vez: “achei muito interessante aquilo, a minha irmã inclusive me colocou para falar meu irmão que já estava em São Paulo na época, achei demais aquilo. Isso está gravado na minha memória”.
Com a perda do pai, Orosino, e da mãe, quando tinha respectivamente um e doze anos, a sua irmã Maria cumpriu esses dois papéis e o inspirou a continuar na luta da vida. Além disso, foi a ponte para Antônio ter o seu primeiro emprego no Tribunal: “a minha irmã era funcionária de um conselheiro, Dr Luís de Oliveira Coutinho, e ele me indicou aqui na época”.
Desse modo, Antônio entrou no Tribunal como mensageiro, aos 15 anos, no dia 27 de junho de 1983. Assim como a sua primeira lembrança de São Paulo permanece na memória, ele ainda se recorda da bela vista que tinha da região de Moema no refeitório, que com o passar do tempo mudou: “antes era mais arborizado e hoje nós temos um cenário de muitos prédios sendo construídos, está bem diferente o cenário desde aquela época”.
No seu primeiro trabalho, teve como chefe Sergio Raimundo, na auditoria I, que foi fundamental na sua trajetória, em especial por inspirá-lo a seguir nos estudos – em 2013, formou-se em direito pela Universidade Ibirapuera (Unib). Outra figura importante na trajetória dele foi Hiroshi Takahashi, diretor da Auditoria, que o auxiliava muito na parte da matemática.
Após três anos como mensageiro, o servidor migrou para a função de contínuo, mudando de regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) para a lei estatutária 9.160. Em 1988, ele teve a estabilidade auferida pela Constituição. Na sequência, em 1991, o cargo passou a ser nomeado Auxiliar de Serviço II. Em seguida, passou a ser chamado de Auxiliar de Expedição. Atualmente, ele é Auxiliar Técnico de Fiscalização. Nessa função, lida com a rotina geral do Tribunal em particular na parte administrativa, na garagem, mais especificamente no Setor de Transporte, o que o fez ficar conhecido como Toninho do Transporte.
Em 39 anos de serviço, Antônio vivenciou muitos fatos marcantes, porém, para ele o mais importante foi quando a Associação dos Servidores do Tribunal de Contas de São Paulo – Astcom – e a Federação Nacional das entidades dos Tribunais de Contas –Fenastec – realizaram um congresso e receberam representantes de grande parte dos Tribunais de Contas de todo o Brasil, em 2006. Entre tantos nomes, o presidente da Fenastec na época, Amilson Carneiro, se destacou por sugerir a criação de uma entidade sindical que congregasse os funcionários do Tribunal e da Câmara Municipal. Foi fundado, então, o Sindicato dos Funcionários do Legislativo e do Tribunal de Contas (o atual Sindilex.).
Anteriormente, em 2002, Antônio junto com outros colegas havia formado uma chapa e foi eleito presidente da Associação dos Servidores (Astcom). Nos seus dois mandatos, que duraram de 2003 a 2006, o seu maior marco foi a organização do Sindilex, no qual ele ocupou na época o cargo de vice-presidente, conquistando uma série de reivindicações para a categoria: “evolução de carreiras, reajustes que estavam constantemente travados. A principal benfeitoria nesse caso foi conquistar a data-base”. Atualmente, ele está no cargo de diretor de Esportes do Sindicato.
Em sua chegada ao Tribunal, em 1983, Antônio era um adolescente de 15 anos, agora é casado com Cleide e tem duas filhas: Deborah e Byanca. Entrou menino e se transformou num homem. Por isso, agradece ao órgão por ter ajudado em sua trajetória: “tudo o que eu conquistei na vida foi graças ao Tribunal”. No entanto, ele foi fundamental também para o TCMSP e para a categoria dos servidores, com destaque para a criação do Sindicato, o seu principal legado.
Portanto, assim como o homem modifica a natureza e ela o modifica, o Tribunal mudou a sua vida e ele a trajetória do TCMSP.